
Oficina LEPEHIS: Interdisciplinaridade e Transdisciplinaridade: Multiletramentos para o exercício da cidadania planetária
COORDENAÇÃO: Waydlle Silva (Graduação em Letras-Inglês - FUNESO-UNESF/PE/ Especialização em Linguística Aplicada - Anhanguera/GO/Mestranda em TIC’s da Educação - FUNIBER), Phellipy Fontes (Graduando em História/Licenciatura/ Universidade Federal de Goiás)
DATA: 3 de outubro de 2024 - 14h às 18h
CARGA HORÁRIA: 4 h
EMENTA: Considerando a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade como fatores decisivos na constituição do espaço escolar como um campo abrangente da formação humana, o ato de estudar também é em si um ato de conhecer as complexidades e singularidades que constroem a realidade a partir de seus fenômenos mais diversos como a simulação de situações -problema da vida em sociedade que propomos realizar a partir da leitura de obras literárias e suas interdiscursividades para que os estudantes conseguissem compreender o mundo ao seu redor e intervir nele. Desse modo, esta oficina objetiva expor o trabalho educacional realizado pelos professores Waydlle Silva e Phellipy Fontes intitulado “Projeto Literarte” realizado ao longo do ano de 2023 que culminou na realização de duas simulações da Assembleia das Nações Unidas, envolvendo estudantes, tutores, professores, pais e a comunidade escolar em geral em torno do exercício da cidadania planetária, respeito aos direitos humanos e fraternidade entre povos e nações. O Projeto “Literarte” é um percurso de leitura anual para ser desenvolvido com estudantes, do nono ano, Ensino Fundamental, e primeira série , Ensino Médio, gerido pela disciplina de Literatura e em caráter interdisciplinar e transdisciplinar com as disciplinas de História, Filosofia, Redação e Geografia. Vale ressaltar que a finalidade dessa ação didático-pedagógica é utilizar as estratégias de aprendizagens, para a construção do conhecimento do estudante como um sujeito protagonista de sua formação para a vida. Nessa concepção, como educadores, nossa função é tutorar os estudantes, focando na aprendizagem “(...) ativa, significativa e contextualizada.” FUNIBER (2020, p.22). Para que o Literarte seja uma realidade e desenvolva leitores (as), escritores (as), o exercício de uma cidadania planetária foi uma das razões norteadoras das práticas de leitura, ou seja, ouvir , falar, ler e escrever para vida, propiciando uma ação docente para além dos muros da escola (transdisciplinaridade). Assim, as situações de ensino-aprendizagem-avaliação capacitaram os sujeitos-alvos do Literarte a “ler o mundo”, a estabelecer diálogos entre gêneros discursivo-textuais nos campos: artístico-literário, filosófico, histórico, geográfico, científico, jornalístico-midiático, vida prática, práticas de estudo e pesquisa e vida pública. Campos esses voltados para os eixos: leitura, produção de texto, análise linguística /semiótica e oralidade, dialogando com outras áreas do conhecimento, de acordo com a BNCC (2019). É importante salientar que o Literarte é a valorização das práticas crítico-reflexivas de aprendizagens funcionais, considerando conhecimentos prévios, autoconceito, motivação e estratégias (FUNIBER, 2020, p.05). Nessa ótica, os estudantes são agentes, tutorados, mentorados e protagonistas na trajetória de leitura. Nesse projeto, a percepção dos estudantes como cidadãos planetários foi um processo pedagógico que procurou equilibrar o cognitivo, o afetivo, o social, o político, o pessoal e o científico. (FUNIBER, 2020, citando Coll, 1990, p.05). Para legitimar a práxis do LiterArte, cientistas das linguagens e das ciências humanas como : Bronckart (1999), que explicita os pressupostos sócio-interacionistas de linguagem; Bakhtin (2000), que conceitua gênero textual e defende sua dimensão sócio-histórica; Mary Kato (1995), Kleiman (1995), Solé (1998), Althusser (1980) , Pêcheux (1988), Abramo (2003), Orlandi (1995), Foucault (1992), Antunes (2003), Dolz, Noverraz, Schneuwly(2004) dentre outros, que apresentam os postulados sobre língua, linguagem, leitura, fala, escrita, multiletramento, historicidade e cultura histórica numa perspectiva discursiva. Com base nessa fundamentação, cabe expor que o projeto Literarte versa ações como: considera conhecimentos internalizados e prévios dos estudantes; emprega aspectos afetivo-emocionais, metacognitivos , motivacionais, autorreguladores; utiliza também a enunciação-linguística dos hipertextos; estimula o interesse individual para motivação da aprendizagem; exerce a leitura em pares; promove cooperação positiva; conduz a aplicação, aquisição, negociação, intercâmbio do conhecimento; promove uma trilha de conhecimento interativa, cooperativa, crítico-reflexiva; oferece ao educando espaço privilegiado de reflexão e manifestação, para que seja “sujeito da própria leitura, fala e escrita”; possibilita a aquisição da habilidade de relacionar os temas atuais, tanto os de ordem política, social ou cultural, não apenas para tomar conhecimento dos fatos, mas refletir e intervir nestes, adquirindo competência para fazer uma leitura crítica da realidade. Essas ações pedagógicas visam conduzir o alunado a criar, opinar, pensar, agir, ler e escrever com autonomia, ou seja, conectar a expressão pessoal de cada leitor e leitora, sempre, relacionando a literatura às outras linguagens artísticas e não artísticas, às ciências humanas, nessa ação, promovendo, de tal modo, uma transdisciplinaridade e interdisciplinaridade. Além disso, a culminação desse processo se deu através do gênero textual-discursivo “Assembleia da ONU - Tribunal Internacional” em prol dos Direitos Humanos, com base na situação-problema discutida anualmente, “Educação que transforma”, por meio de três obras literárias principais: O Menino do Pijama Listrado (John Boyne), A Rainha Vermelha (Victoria Aveyard) e Maus (Art Spiegelman). Nesse debate, foram discutidas leis nacionais e internacionais ; dados estatísticos; alusões históricas, sistemas políticos; questões culturais e sociais; concepções sociológicas e filosofia; relações de poder; jogos de interesse que envolvem as relações internacionais para o desenvolvimento de um mundo pacífico e justo. Em suma, podemos afirmar que o foco da idealização do projeto Literarte se fundamenta na aprendizagem estratégica, inter e transdisciplinar para que os estudantes entendam que todo e qualquer objeto do conhecimento deve ter o propósito de ser apreendido e aprendido para instrumentalizar as transformações sociais e humanos que a sociedade necessita. Com isso, essa proposta de trabalho segue a participação do individual para o coletivo, com a interdependência positiva; os exercícios de perguntas, comandos para passar de um passo a outro, privilegiando a interação e exigindo uma participação individual, comprometida e responsável; as atitudes pró-sociais são fundamentais porque os alunos têm que construir empatia, gerir conflitos, escutar e aceitar, de maneira construtiva. Nesse percurso de formação de cidadãos planetários, a dicotomia entre a prática e a teoria científica do fazer educacional na escola tradicional é quebrada, e a escola da vida é colocada em prática. Isso porque o Literarte é o ensino-aprendizagem-avaliação cooperativo , crítico/reflexivo , autônomo e funcional. É emocionante ver que a transdisciplinaridade e interdisciplinaridade desenvolvida e praticada nesse projeto comprova que: “Uma das tarefas mais importantes da prática educativa-crítica é propiciar as condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor ou a professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos,(...)”(Freire,2000). Nessa ação educacional, no Literarte, há uma postura de tutoria do conhecimento, estratégias organizacionais, colaboração e roteirização das atividades de leitura. Todas essas ações objetivam a centralidade da aprendizagem no papel ativo do alunado. Vale ressaltar que, no decorrer das ações, houve aproximação com a vida real, e propusemos uma atividade que contraria a inércia que alguns ambientes escolares apresentam quando ignoram a aplicação do conhecimento na vida cotidiana e de uma aprendizagem cooperativa, ou seja, essa prática da Assembleia da ONU, dentre as várias ao longo do processo, quebra a lógica educacional tradicional originada da ideologia fordista e taylorista de ensino. Portanto, na oficina que propomos realizar, mostraremos como essa prática se deu, a fundamentação teórica, os resultados e como um projeto transdisciplinar e interdisciplinar deve ser um imperativo nos processos de ensino-aprendizagem em qualquer fase e período educacional. Além disso, vamos propor na prática uma estrutura de trabalho que pode ser replicada e adaptada para o contexto de qualquer sala de aula que seja um ambiente de promoção da cidadania planetária.